sexta-feira, 2 de março de 2012

Curso de Formação para Ministros


Lumen Gentium
CAPÍTULO V A VOCAÇÃO DE TODOS À SANTIDADE NA IGREJA

Proêmio: chamamento universal à santidade
39. A nossa fé crê que a Igreja, cujo mistério o sagrado Concílio expõe, é
indefectivelmente santa. Com efeito, Cristo, Filho de Deus, que é com o Pai
e o Espírito ao único Santo» (120), amou a Igreja como esposa, entregou-
Se por ela, para a santificar (cfr. Ef. 5, 25-26) e uniu-a a Si como Seu
corpo, cumulando-a com o dom do Espírito Santo, para glória de. Deus.
Por isso, todos na Igreja, quer pertençam à Hierarquia quer por ela sejam
pastoreados, são chamados à santidade, segundo a palavra do Apóstolo:
«esta é a vontade de Deus, a vossa santificação» (1 Tess. 4,3; cfr. Ef. 1,4).
Esta santidade da Igreja incessantemente se manifesta, e deve manifestarse,
nos frutos da graça que o Espírito Santo produz nos fiéis; exprime-se
de muitas maneiras em cada um daqueles que, no seu estado de vida,
tendem à perfeição da caridade, com edificação do próximo; aparece dum
modo especial na prática dos conselhos chamados evangélicos. A prática
destes conselhos, abraçada sob a moção do Espírito Santo por muitos
cristãos, quer privadamente quer nas condições ou estados aprovados pela
Igreja, leva e deve levar ao mundo um admirável testemunho e exemplo
desta santidade.
Jesus, mestre e modelo
40. Jesus, mestre e modelo divino de toda a perfeição, pregou a santidade de vida,
de que Ele é autor e consumador, a todos e a cada um dos seus discípulos, de
qualquer condição: «sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito» (Mt. 5,48)
(121). A todos enviou o Espírito Santo, que os move interiormente a amarem a Deus
com todo o coração, com toda a alma, com todo o espírito e com todas as forças (cfr.
Mc. 12,30) e a amarem-se uns aos outros como Cristo os amou (cfr. Jo. 13,34;
15,12). Os seguidores de Cristo, chamados por Deus e justificados no Senhor Jesus,
não por merecimento próprio mas pela vontade e graça de Deus, são feitos, pelo
Baptismo da fé, verdadeiramente filhos e participantes da natureza divina e, por
conseguinte, realmente santos. É necessário, portanto, que, com o auxílio divino,
conservem e aperfeiçoem, vivendo-a, esta santidade que receberam. O Apóstolo
admoesta-os a que vivam acorro convém a santos» (Ef. 5,3), acorro eleitos e amados
de Deus, se revistam de entranhas de misericórdia, benignidade, humildade,
mansidão e paciência» (Col. 3,12) e alcancem os frutos do Espírito para a
santificação (cfr. Gál. 5,22; Rom. 6,22). E porque todos cometemos faltas em muitas
ocasiões (Tg. 3,2), precisamos constantemente. da misericórdia de Deus e todos os
dias devemos orar: «perdoai-nos as nossas ofensas» (Mt. 6,12) (122). É, pois, claro
a todos, que os cristãos de qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da
vida cristã e à perfeição da caridade (123).
 Na própria sociedade terrena, esta santidade promove um modo de vida mais
humano. Para alcançar esta perfeição, empreguem os fiéis as forças recebidas
segundo a medida em que as dá Cristo, a fim de que, seguindo as Suas pisadas e
conformados à Sua imagem, obedecendo em tudo à vontade de Deus, se consagrem
com toda a alma à glória do Senhor e ao serviço do próximo. Assim crescerá em
frutos abundantes a santidade do Povo de Deus, como patentemente se manifesta na
história da Igreja, com a vida de tantos santos.
A santidade nos diversos estados
41. Nos vários géneros e ocupações da vida, é sempre a mesma a santidade que é
cultivada por aqueles que são conduzidos pelo Espírito de Deus e, obedientes à voz
do Pai, adorando em espírito e verdade a Deus Pai, seguem a Cristo pobre, humilde, e
levando a cruz, a fim de merecerem ser participantes da Sua glória. Cada um,
segundo os próprios dons e funções, deve progredir sem desfalecimentos pelo
caminho da fé viva, que estimula a esperança e que actua pela caridade.
 Em primeiro lugar, os pastores do rebanho de Cristo, à semelhança do sumo e
eterno sacerdote, pastor e bispo das nossas almas, desempenhem o próprio
ministério santamente e com alegria, com humildade e fortaleza; assim cumprido,
também para eles será o seu ministério um sublime meio de santificação.
Escolhidos para a plenitude do sacerdócio, receberam a graça sacramental para
que, orando, sacrificando e pregando, com toda a espécie de cuidados e serviços
episcopais, realizem a tarefa perfeita da caridade pastoral (124), sem hesitarem
em oferecer a vida pelas ovelhas e, feitos modelos do rebanho (cfr. 1 Ped. 5,3),
suscitem na Igreja, também com o seu exemplo, uma santidade cada vez maior.
Os presbíteros, à semelhança da ordem dos Bispos, de que são a coroa espiritual
(125), já que participam das suas funções por graça de Cristo, eterno e único
mediador, cresçam no amor de Deus e do próximo com o exercício do seu dever
quotidiano; guardem o vínculo da unidade sacerdotal, abundem em toda a espécie
de bens espirituais e dêem a todos vivo testemunho de Deus (126), tornando-se
émulos daqueles sacerdotes que no decorrer dos séculos, em serviço muitas vezes
humilde e escondido, nos deixaram magnífico exemplo de santidade. 
O seu louvor persevera na Igreja. Orando e oferecendo o sacrifício pelo próprio rebanho
e por todo o Povo de Deus, conforme é seu ofício, conscientes do que fazem e imitando
as realidades com que lidam (127), longe de serem impedidos pelos cuidados, perigos e
tribulações do apostolado, devem antes por eles elevar-se a uma santidade mais alta,
alimentando e afervorando a sua ação com a abundância da contemplação, para alegria
de toda a Igreja de Deus. Todos os presbíteros, e especialmente aqueles que por título
particular da sua ordenação são chamados sacerdotes diocesanos, lembrem-se de quanto
ajudam para a sua santificação a união fiel e a cooperação generosa com o próprio
Bispo.
Na missão de graça do sumo sacerdote, participam também de modo peculiar os
ministros de ordem inferior, e sobretudo os diáconos; servindo nos mistérios de Cristo e
da Igreja (128), devem conservar-se puros de todo o vício, agradar a Deus, atender a
toda a espécie de boas obras diante dos homens (cfr. 1 Tim. 3, 8-10. 12-13). Os clérigos
que, chamados pelo Senhor e separados a fim de ter parte com Ele, se preparam sob a
vigilância dos pastores para desempenhar os ofícios de ministros, procurem conformar
o coração e o espírito com tão magnífica eleição, sendo assíduos na oração e fervorosos
no amor, ocupando o pensamento com tudo o que é verdadeiro, justo e de boa
reputação, fazendo tudo para glória é honra de Deus. Destes se aproximam aqueles
leigos, que, escolhidos por Deus, são chamados pelos Bispos para se consagrarem
totalmente às atividades apostólicas e com muito fruto trabalham no campo do Senhor
(129).


Os esposos e pais cristãos devem, seguindo o seu caminho peculiar, amparar-se
mùtuamente na graça, com amor fiel, durante a vida inteira, e imbuir com a doutrina
cristã e as virtudes evangélicas a prole que amorosamente receberam de Deus. Dão
assim a todos exemplo de amor incansável e generoso, edificam a comunidade
fraterna e são testemunhas e cooperadores da fecundidade da Igreja, nossa mãe, em
sinal e participação daquele amor, com que Cristo amou a Sua esposa e por ela Se
entregou (130). Exemplo semelhante é dado, mas de outro modo, pelas pessoas
viúvas ou celibatárias, que muito podem concorrer para a santidade e acção da Igreja.
Aqueles que se ocupam em trabalhos muitas vezes duros, devem, através das tarefas
humanas, aperfeiçoar-se a si mesmos, ajudar os seus concidadãos, fazer progredir a
sociedade e toda a criação; e, ainda, imitando com operosa caridade a Cristo, cujas
mãos se exercitaram em trabalhos de operário e, em união com o Pai, continuamente
actua para a salvação de todos; alegres na esperança, levando os fardos uns dos
outros, subam com o próprio trabalho quotidiano a uma santidade mais alta, também
ela apostólica.
Todos quantos se vêem oprimidos pela pobreza, pela fraqueza, pela doença ou
tribulações várias, e os que sofrem perseguição por amor da justiça, saibam que estão
unidos, de modo especial, a Cristo nos seus sofrimentos pela salvação do mundo; o
Senhor, no Evangelho, proclamou-os bem-aventurados e «o Deus... de toda a graça,
que nos chamou à Sua eterna glória em Cristo Jesus, depois de sofrerem um pouco,
os há-de restabelecer, confirmar e consolidar» (1 Ped. 5,10). 
Todos os fiéis se santificarão cada dia mais nas condições, tarefas e circunstâncias da
própria vida e através de todas elas, se receberem tudo com fé da mão do Pai celeste
e cooperarem com a divina vontade, manifestando a todos, na própria actividade
temporal, a caridade com que Deus amou o mundo.
A caridade. O martírio. Os conselhos evangélicos. A santidade no próprio estado
42. «Deus é caridade e quem permanece na caridade, permanece em Deus e Deus
nele» (1 Jo. 4,16). Ora, Deus difundiu a sua caridade nos nossos corações, por meio
do Espírito Santo, que nos foi dado (cfr. Rom. 5,5). Sendo assim, o primeiro e mais
necessário dom é a caridade, com que amamos a Deus sobre todas as coisas e ao
próximo por amor d'Ele. Para que esta caridade, como boa semente, cresça e
frutifique na alma, cada fiel deve ouvir de bom grado a palavra de Deus, e cumprir,
com a ajuda da graça, a Sua vontade, participar frequentemente nos sacramentos,
sobretudo na Eucaristia, e nas funções sagrarias, dando-se continuamente à oração, à
abnegação de si mesmo, ao serviço efectivo de seus irmãos e a toda a espécie de
virtude; pois a caridade, vínculo da perfeição e plenitude da lei (cfr. Col. 3,14; Rom.
13,10), é que dirige todos os meios de santificação, os informa e leva a seu fim (131).
E, pois, pela caridade para com Deus e o próximo que se caracteriza o verdadeiro
discípulo de Cristo.
Como Jesus, Filho de Deus, manifestou o Seu amor dando a vida por nós, assim
ninguém dá maior prova de amor do que aquele que oferece a própria vida por Ele e por
seus irmãos (cfr. 1 Jo. 3,16; Jo. 15,13). Desde os primeiros tempos, e sempre assim
continuará a suceder, alguns cristãos foram chamados a dar este máximo testemunho de
amor diante de todos, e especialmente perante os perseguidores. Por esta razão, o
martírio, pelo qual o discípulo se torna semelhante ao mestre, que livremente aceitou a
morte para salvação do mundo, e a Ele se conforma no derramamento do sangue, é
considerado pela Igreja como um dom insigne e prova suprema de amor. E embora seja
concedido a poucos, todos, porém, devem estar dispostos a confessar a Cristo diante dos
homens e a segui-l'O no caminho da cruz em meio das perseguições que nunca faltarão
à Igreja.
A santidade da Igreja é também especialmente favorecida pelos múltiplos conselhos que
o Senhor propõe no Evangelho aos Seus discípulos (132). Entre eles sobressai o de,
com o coração mais facilmente indiviso (cfr. 1 Cor. 7, 32-34), se consagrarem só a
Deus, na virgindade ou no celibato, dom da graça divina que o Pai concede a alguns
(cfr. Mt. 19,11; 1 Cor. 7,7) (133). Esta continência perfeita, abraçada pelo reino dos
céus, foi sempre tida em grande estima pela Igreja, como sinal e incentivo do amor e
ainda como fonte privilegiada de fecundidade espiritual no mundo.
 A Igreja recorda-se também da recomendação com que o Apóstolo, incitando os fiéis
à caridade, os exorta a ter sentimentos semelhantes aos de Jesus Cristo, o qual «Se
despojou a Si próprio, tomando a condição de escravo... feito obediente até à morte
(Fil. 2, 7-8) e, «sendo rico, por nós Se fez pobre» (2 Cor. 8,9). Sendo necessário que
sempre e em todo o tempo os discípulos imitem esta caridade e humildade de Cristo, e
delas dêem testemunho, a mãe Igreja alegra-se de encontrar no seu seio muitos
homens e mulheres que seguem mais de perto o abatimento do Salvador e mais
claramente o manifestam, abraçando a pobreza na liberdade dos filhos de Deus e
renunciando às próprias vontades: em matéria de perfeição, sujeitam-se, por amor de
Deus, ao homem, para além do que é de obrigação, a fim de mais plenamente se
conformarem a Cristo obediente (134).
Todos os cristãos são, pois, chamados e obrigados a tender à santidade e perfeição do
próprio estado. Procurem, por isso, ordenar rectamente os próprios afectos, para não
serem impedidos de avançar na perfeição da caridade pelo uso das coisas terrenas e
pelo apego às riquezas, em oposição ao espírito da pobreza evangélica, segundo o
conselho do Apóstolo: os que usam no mundo, façam-no como se dele não usassem,
pois é transitório o cenário deste mundo (1 Cor. 7,31 gr.) (135).
6.1.5 Os apóstolos e os santos
273. Também os apóstolos de Jesus e os santos marcaram
a espiritualidade e o estilo de vida de nossas Igrejas. Suas vidas
são lugares privilegiados de encontro com Jesus Cristo. Seu testemunho
se mantém vigente e seus ensinamentos inspiram o
ser e ação das comunidades cristãs do Continente. Entre eles,
Pedro o apóstolo, a quem Jesus confiou a missão de confirmar a
fé de seus irmãos (cf. Lc 22,31-32), os ajuda a estreitar o vínculo
de comunhão com o Papa, seu sucessor, e a buscar em Jesus
as palavras de vida eterna. Paulo, o evangelizador incansável,
lhes indicou o caminho da audácia missionária e a vontade de
se aproximar de cada realidade cultural com a Boa Nova da salvação.
João, o discípulo amado do Senhor, lhes revelou a força
transformadora do mandamento novo e a fecundidade de permanecer
em seu amor.
 274. Nossos povos nutrem carinho e especial devoção por José, esposo de Maria, homem
justo, fiel e generoso que sabe perder-se para se achar no mistério do Filho. São José, o
silencioso mestre, fascina, atrai e ensina, não com palavras mas com o resplandecente
testemunho de suas virtudes e de sua firme simplicidade.
275. Nossas comunidades levam o selo dos apóstolos e, além disso, reconhecem o
testemunho cristão de tantos homens e mulheres que espalharam em nossa geografia as
sementes do Evangelho, vivendo valentemente sua fé, inclusive derramando seu sangue
como mártires. Seu exemplo de vida e santidade constitui um presente precioso para o
caminho cristão dos latinoamericanos
e, simultaneamente, um estímulo para imitar suas virtudes nas novas
expressões culturais da história. Com a paixão de seu amor a Jesus Cristo, foram membros
ativos e missionários em sua comunidade eclesial. Com valentia, perseveraram na
promoção dos direitos das pessoas, foram perspicazes no discernimento crítico da realidade
à luz do ensino social da Igreja e críveis pelo testemunho coerente de suas vidas. Nós,
cristãos de hoje, acolhemos sua herança e nos sentimos chamados a continuar com
renovado ardor apostólico e missionário o estilo evangélico de vida que nos transmitiram.


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